domingo, 28 de setembro de 2008

Mandato da missão da ONU no Haiti deve ser renovado sem alterar perfil das tropas

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil


Brasília - O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, deve recomendar a renovação do mandato da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), no relatório que vai ser apresentado do Conselho de Segurança da instituição no próximo dia 8.

Foi o que informou o representante especial adjunto do secretário-geral da ONU na missão (o segundo homem no comando da Minustah), o brasileiro Luiz Carlos da Costa. O mandato atual foi renovado em outubro do ano passado e tem validade até 15 de outubro. Para que as tropas continuem no país, a renovação deve ser aprovada pelo Conselho de Segurança.

De acordo com ele, a recomendação também deve ser de manutenção do atual perfil de composição da missão que, na sua vertente militar, conta com cerca de 7 mil militares e mais 1,7 mil homens da polícia da ONU. Para Costa, ainda é cedo para modificar o perfil da Minustah.

“Nós apresentamos uma proposta de que essa configuração deve ser mantida até 2011, que seriam 12 meses depois das eleições presidenciais, para permitir um processo eleitoral tranqüilo, uma campanha para as eleições que seja um processo político e também um princípio de um novo governo com tranqüilidade”, afirmou o brasileiro.

A opinião é compartilhada pelo comandante das forças da Minustah, o também brasileiro general Carlos Alberto dos Santos Cruz. “Eu acredito que se a ONU saísse daqui neste momento se teria um retrocesso muito grande em tudo aquilo que foi adquirido até agora”, disse, ressaltando que existem tropas no Haiti a pedido do próprio governo haitiano.

Apesar de não arriscar quanto tempo mais as tropas devem ficar no país caribenho, o general ressalta que é necessário ter bem claros os limites de atuação das Nações Unidas e os objetivos que devem ser alcançados.

Para o embaixador brasileiro em Porto Príncipe, capital do Haiti, é necessário haver uma mudança gradual na composição da vertente militar a partir dos próximos contingentes que chegarem ao país. “Eu continuo defendendo que o Brasil, nesse próximo contingente [que será o décimo] ou no outro, mande menos combatentes e mais uma companhia de saúde, mais pessoal de educação”, afirmou.

Ele completa que, a partir de 2011, a expectativa é de que haja uma redução na componente militar e a substituição da parte de segurança da missão pela Polícia Nacional do Haiti (PNH), que está sendo recomposta e treinada por soldados da ONU. “Sem prejuízo não só da manutenção da vertente civil da Minustah, mas até com o seu crescimento”, completou.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Brasil está no "segundo tempo do jogo" no Haiti, diz Lula

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Porto Príncipe (Haiti)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira que a presença das forças de paz da ONU no Haiti, comandadas pelo Brasil, podem ser comparadas a um jogo de futebol.

De acordo com o líder brasileiro, o ano de 2004 representou o primeiro tempo da partida. Naquela ocasião, teve início a missão dos militares brasileiros e nesse período os soldados travaram os mais duros combates contra as gangues que dominavam as favelas da capital haitiana.

"Agora, estamos começando o segundo tempo do jogo. O primeiro tempo foi uma etapa complicada, de ir conhecendo aos poucos as manhas do adversário, fechar uma defesa segura e não deixar passar nenhum gol."

''No segundo tempo, é hora de tomarmos uma iniciativa, e a tática do jogo aqui é o fortalecimento cada vez maior da nossa presença solidária", afirmou o presidente, durante um discurso realizado na Base Geral Bacellar, sede do quartel-general das tropas brasileiras no Haiti.

De acordo com o líder brasileiro, é hora de dar um segundo passo, que consiste em convencer a comunidade de doadores internacionais de que é ''preciso efetivamente entender que o que vai consolidar a democracia no Haiti é o desenvolvimento, a geração de empregos e cidadania''.

Críticas

Em um discurso realizado pouco antes, na sede do governo haitiano, ao lado do presidente René Préval, Lula fez críticas à comunidade internacional, que, segundo ele, teria ficado muito aquém das expectativas e das promessas em relação ao Haiti.

Para o presidente, na nova etapa que se apresenta o Brasil deverá investir com mais afinco em obras de infra-estrutura no Haiti.

''Nosso embaixador vai levar os principais projetos que eles têm interesse, que são projetos de algumas barragens, uma para energia elétrica e outra para agricultura.''

De acordo com o líder brasileiro, uma equipe de técnicos da Eletrobrás irá ao Haiti, assim como comitivas do Ministério da Integração Nacional, da Agricultura e da Reforma Agrária, para que seja feito uma análise "minuciosa"' de projetos nos quais estas pastas poderão investir no Haiti.

Lula contou ainda ter convidado o presidente do Haiti para ir ao Brasil no próximo dia 13 de agosto, ''para que a gente possa consolidar um acordo''.

O presidente respondeu às críticas de que a presença brasileira no país caribenho poderia evoluir para uma relação de tutelagem.

''Não, não queremos tutelar. Disse da outra vez que vim aqui que o Brasil ficará aqui enquanto o presidente Préval e o governo do Haiti entenderem que a Força de Paz pode contribuir para manter a paz ou enquanto a ONU achar que é necessário o Brasil estar presente.''

Sem Ronaldo ou Ronaldinho

Na quarta-feira mais cedo, durante seu discurso na sede do governo, Lula, assim como em seu pronunciamento na base militar brasileira, recorreu a analogias futebolísticas para descrever a trajetória das forças de paz do Brasil.

''No dia 18 de agosto de 2004, estive pela primeira vez no Haiti. Foi a primeira visita de um chefe de Estado estrangeiro, após os fatos que levaram à parceria entre as Nações Unidas e o povo haitiano na busca da estabilização deste país-irmão. Vim acompanhado da Seleção Brasileira de futebol para trazer um momento de alegria e descontração.''

Dirigindo-se ao presidente Préval, Lula comentou: ''Como lhe disse na reunião particular, não trouxe desta vez nenhum jogador da Seleção Brasileira, nem Ronaldo nem Ronaldinho''.

E acrescentou: ''Mas trouxe uma equipe de brasileiros, jogadores do meu governo, que estão me ajudando a ganhar o jogo no Brasil. São esses homens que me ajudaram no Brasil que irão me ajudar a ganhar o jogo aqui no Haiti.''

El Salvador

Após permanecer por pouco mais de seis horas no Haiti, Lula seguiu para El Salvador, onde permanecerá até o final da tarde desta quinta.

É a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro ao país centro-americano.

O presidente deverá se encontrar com o presidente de El Salvador, Elías Antonio Saca, e buscar pontos para estabelecer acordos no setor energético, em especial na área de biocombustíveis.

Paralelamente à visita do presidente, será realizada na capital do país, San Salvador, um encontro reunindo empresários brasileiros e centro-americanos.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

No Haiti, Lula defenderá ampliação de missão brasileira

BRUNO GARCEZ
da BBC, em Porto Príncipe

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega à capital haitiana, Porto Príncipe, nesta quarta-feira, onde irá se encontrar com o presidente do país, René Preval, e com membros do governo interino do Haiti.

Durante sua visita, Lula deverá reforçar o papel dos militares brasileiros que comandam as forças de paz da ONU (Minustah, na sigla em francês) e defender a ampliação do número de soldados do Brasil na nação caribenha.

Nesta terça-feira (27), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, defendeu o aumento do número de tropas brasileiras em mais cem soldados, todos eles pertencentes ao Batalhão de Engenharia, que atuariam em obras de infra-estrutura.

De acordo com o ministro, a vinda de Lula ao Haiti é "uma visita de vistoria", porque o país deve preparar o terreno para a "visita de mais cem militares".

O projeto de ampliação do número de soldados está atualmente parado na Câmara dos Deputados. Jobim defendeu a aprovação o quanto antes, argumentando que, assim que a Câmara aprovar o envio de militares, "em 30 dias eles poderão se deslocar, estarão prontos, estarão preparados".

"Basta andar pelas ruas para saber que isso (a presença dos engenheiros militares) é preciso", afirmou o ministro.

Durante sua estadia no país, o presidente irá visitar a sede do Batalhão Brasileiro da Minustah e as instalações da Companhia de Engenheiros do Exército, que vem realizando obras de reconstrução na nação caribenha.

Segunda visita

Esta será a segunda visita do presidente ao Haiti. A primeira delas se deu em agosto de 2004, quando a Seleção Brasileira realizou um amistoso contra a equipe haitiana. Naquele ano, teve início a missão militar brasileira no país.

Lula deve desembarcar em Porto Príncipe pela manhã e pouco depois seguirá para o Palácio Nacional, onde irá se encontrar com o presidente René Preval.

O presidente deverá participar de um almoço com o líder haitiano e assinar acordos de projetos de cooperação no setor agrícola e no combate à violência contra a mulher.

De acordo com um relatório divulgado pela Anistia Internacional nesta quarta-feira, a violência contra as mulheres e a falta de acesso à Justiça no Haiti são motivo de "grande preocupação" para a entidade.

A ONG afirmou ainda que denúncias de agressões sexuais registraram um aumento em relação aos anos anteriores e que as mais sujeitas à violência sexual no país são as jovens, com mais da metade dos incidentes atingindo menores de 17 anos.

Nesta terça-feira, a ONG britânica Save The Children acusou as forças de paz presentes no Haiti de praticarem abusos sexuais contra menores.

O comandante das forças de paz da ONU no país, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, pediu que a entidade forneça casos concretos de abusos cometidos por militares, para que possam ser abertos inquéritos sobre as supostas denúncias.

Agenda

Lula irá permanecer pouco mais de seis horas no Haiti.

Por volta de 17h40 do horário local ele deverá seguir para El Salvador, a última parada de seu giro caribenho.
O presidente irá pernoitar na capital do país, San Salvador, onde irá se encontrar com o presidente do país, Elías Antonio Saca.

Após participar de uma série de encontros na quinta-feira, Lula deverá embarcar de volta para o Brasil, no final da tarde.