domingo, 26 de agosto de 2012


O governo ainda vai apresentar uma proposta para os militares, cujo percentual tem sido mantido em segredo, mas é diferente dos 15,8 por cento.


Servidores que rejeitarem proposta de 15,8% ficarão sem aumento--fonte

sexta-feira, 24 de agosto de 2012 19:29 BRT
BRASÍLIA, 24 de Ago (REUTERS) - O governo decidiu que não vai alterar a proposta feita aos servidores de reajuste salarial de 15,8 por cento, dividos em três parcelas até 2015, e que as categorias que não aceitarem ficarão sem o aumento, informou à Reuters uma fonte do governo nesta sexta-feira.
As negociações se encerram neste fim de semana e o governo espera assinar os acordos com as categorias até terça-feira da semana que vem.
O mesmo reajuste parcelado deve ser estendido aos servidores do Poder Judiciário. O governo ainda vai apresentar uma proposta para os militares, cujo percentual tem sido mantido em segredo, mas é diferente dos 15,8 por cento.
Segundo essa fonte, que pediu para não ter seu nome revelado, a expectativa do governo é que as manifestações dos grevistas e das carreiras que pressionam por aumentos maiores ficarão ainda mais inflamadas na semana que vem porque o governo tem até sexta-feira que vem para encaminhar ao Congresso a peça orçamentária de 2013. Apenas os reajustes que estiverem previstos no Orçamento poderão ser pagos em 2013.
Para tentar combater o acirramento da pressão dos grevistas, medidas judiciais adotadas pela Advocacia-Geral da União (AGU) e o corte de ponto dos grevistas continuarão sendo adotadas na próxima semana.
Nas negociações comandadas pelo Ministério do Planejamento, apenas os servidores da educação conseguiram propostas superiores aos 15,8 por cento, chegando a reajuste de 27 por cento dependendo da função, o que consumirá cerca de 7,1 bilhões de reais pelos próximos três anos.
Segundo a fonte, o governo vê a pressão de grevistas de carreiras de estado como os policiais federais, auditores da Receita Federal, servidores do Banco Central e do Tesouro, como um risco para o teto do funcionalismo, estabelecido em 26,7 mil reais. "Isso não dá para ceder", disse a fonte.
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)
 

domingo, 19 de agosto de 2012

Governo define categorias que terão aumento salarial
19 Jul 2012
Simone Cavalcanti
Há um reconhecimento de que os salários mais baixos de Exército, Marinha e Aeronáutica estão bem defasados em relação aos servidores civis
Há um reconhecimento de que os salários mais baixos de Exército, Marinha e Aeronáutica estão bem defasados em relação aos servidores civis
Após oferecer plano de carreira a professores, Planalto analisa o que poderá conceder às Forças Armadas.
A presidente Dilma Rousseff definiu que vai seguir critérios de justiça e de coerência para atender às reivindicações de reajuste salarial de determinadas categorias do funcionalismo público federal. Depois de apresentar a proposta e o plano de carreira para os professores das universidades, determinou que agora é a vez de os técnicos do governo sentarem para estudar o que pode ser concedido às Forças Armadas e aos servidores de salário-base, que ganham as menores remunerações.
Há um reconhecimento de que os salários mais baixos de Exército, Marinha e Aeronáutica estão bem defasados em relação aos servidores civis. Em especial o de quem ingressa na carreira.
Segundo o Ministério da Defesa, a remuneração bruta de um recruta era de R$ 518,01 em julho de 2011, menos do que um salário mínimo (R$ 622). Na outra ponta, a renda de um almirante fica por vota de R$ 19 mil. Por isso mesmo, é bem possível que não seja autorizado um reajuste linear.
Com recursos limitados, principalmente porque não são das melhores as perspectivas para as receitas da União, o Planalto quer seguir no rumo do cumprimento da meta de superávit primário (economia de recursos públicos para pagar parte da dívida).
A questão fiscal é prioritária. E é preciso fazer escolhas. Por isso mesmo, as reivindicações de reajuste para os funcionários com rendimentos maiores, como os auditores da Receita Federal, não serão atendidas agora.
O secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, disse ao Brasil Econômico que, mesmo que não seja possível dar o aumento pleiteado às outras categorias, está autorizada a negociação de alguns pontos do plano de carreira, como regulamentação de gratificações, por exemplo, que têm um impacto muito menor nas contas.
Segundo ele, o volume total de recursos que o Executivo poderá abrir mão para os reajustes ainda não está definido. E montar essa equação não está sendo nada fácil.
Primeiro porque, como a conjuntura se mantém muito instável, há uma enorme dificuldade para projetar a arrecadação federal no próximo ano e, portanto, as despesas que serão possíveis de acomodar. De toda forma, o governo tem até o dia 15 de agosto para fechar completamente as propostas salariais e até o dia 31 para entregar o Projeto de Lei Orçamentária ao Congresso Nacional.
"Continuamos a negociar com as categorias, mas aguardamos ainda uma definição sobre os valores que estarão disponíveis no Orçamento para os reajustes", afirmou o secretário.
Ele ressaltou que o único montante colocado à mesa até o momento é o dos professores que contarão com R$ 1,5 bilhão reservado na proposta orçamentária de 2013.
Os outros R$ 2,4 bilhões, que complementam a oferta, serão diluídos entre 2014 e 2015. "As negociações não podem ser uma porta aberta apenas para atender os pleitos das categorias", se posicionou, lembrando que, no caso dos professores, há uma decisão firme sobre a educação vista como uma questão estratégica para o desenvolvimento do país no longo prazo.
De acordo com dados do Planejamento, caso todos os pedidos do Executivo, Legislativo e Judiciário fossem aceitos, a conta seria nada menos que R$ 92,2 bilhões ao ano - metade da folha de pagamento atual da União, que chega a R$ 187 bilhões.
O montante também é maior do que se gastava para pagar os servidores há dez anos (R$ 75 bilhões).
Diante do recrudescimento nas negociações, os sindicalistas de várias categorias fazem forte pressão para que as negociações não sejam mais conduzidas sob a batuta da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. A avaliação é a de que ela é linha dura e resiste até mesmo às seguidas manifestações dos grevistas, como a de ontem na Esplanada dos Ministérios.
Os dirigentes sindicais sugeriram a troca de Belchior pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto Carvalho, mas sem sucesso.
Em nova investida, tentaram transformar em interlocutora a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais. No entanto, a orientação da presidente Dilma é a de que a ministra do Planejamento segue à frente das negociações.


FONTE: NOTICIÁRIO DO EXÉRCITO

PARA CONFERI, CLIQUE NO SEGUINTE LINK:

http://www.exercito.gov.br/web/imprensa/resenha;jsessionid=29EDD03378C2AC7F0DB13D916E4F5D35.lr2?p_p_id=arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-3&p_p_col_count=1&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_journalArticleId=1903584&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_ano=2012&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_mes=7&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_dia=19&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_struts.portlet.action=%2Fview%2Farquivo!viewJournalArticle&_arquivonoticias_WAR_arquivonoticiasportlet_INSTANCE_UL0d_struts.portlet.mode=view

sábado, 18 de agosto de 2012


Coluna Panorama Político de Hoje (18-08-2012 - SÁBADO) do jornal O Globo (Blog de Ilimar Franco), no Painel do Paim



Governo rachado

          Os ministros do PT estão possessos com a postura da presidente Dilma. O motivo é a greve do funcionalismo. Como muitos têm militância sindical, gostariam que o Executivo adotasse uma posição mais flexível. Também estão incomodados com  a centralização das negociações nas mãos da ministra Miriam Belchior (Planejamento), a quem acusam de ser intransigente. 

O efeito Lula
Parlamentares com larga experiência eleitoral avaliam que é prematura qualquer avaliação das candidaturas do PT nas capitais. Argumentam que a força petista só será conhecida quando começar a campanha na TV e o presidente Lula aparecer no vídeo pedindo votos para os seus eleitos. Sustentam que não se deve subestimar seu carisma. Lembram que sua força já foi testada em 2010, quando ele garantiu maioria para o governo Dilma no Senado, derrotando vários ícones da oposição. Mais do que uma eventual candidatura presidencial em 2014, os ataques da oposição ao ex-presidente têm como objetivo minar sua influência nas eleições de outubro.
"Precisamos regulamentar como se dão as greves do setor público. Temos que enfrentar essa discussão

Brizola Neto
Ministro do Trabalho
Isolamento
A presidente Dilma quer distância de manifestações em suas viagens país afora. Pediu aos assessores blindagem total. Para isso, foi criada uma força-tarefa informal no Planalto. O general José Elito (Segurança Institucional) está indo aos locais dois dias antes de Dilma para se certificar da segurança e impedir qualquer aproximação.
Quem faz oposição?Ministros se divertem com o anúncio do PSDB de apoio a presidente Dilma. Um deles comentou: “Estamos sem oposição”. O outro emendou: “Como assim, sem oposição? E o Dudu?”, referindo-se ao governador Eduardo Campos.
Os tucanos e a presidente
O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), explica os elogios à presidente Dilma, por causa do programa de concessões: “A presidente está executando o nosso programa. E ela veio do brizolismo, estatizante e nacionalista”.
Carteiraço
O candidato do PT a prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, tentou ser esperto mas se deu mal. Fez uma visita à presidente da Petrobras, Graça Foster, como deputado estadual, dia 6. Tirou fotos do encontro e publicou no seu site da campanha. Ao saber do ocorrido, Graça ficou uma fera. Mandou o jurídico da Petrobras avisar a Neves que ele teria 24 horas para tirar o material do ar.
Apoio de peso
Candidato à prefeitura do Rio, o deputado Otávio Leite (PSDB) acredita que vai deslanchar com a propaganda na TV. Ele vai exibir na telinha os apoios de Fernando Henrique, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Agora vai.

Izabella Teixeira comemora
O Ibama recebeu título de Excelência Geoespacial para o Gerenciamento do Meio Ambiente concedido pela Geospatial Media and Communications. O prêmio se deve ao monitoramento ambiental da Amazônia.
A presidente Dilma vai reativar o “Conselhão”. Dia 30 no Salão Leste do Planalto. Ele foi rebatizado: “Conselho do Desenvolvimento Sustentável”.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Rica, extensa e vulnerável, Amazônia é preocupação número 1 do Exército (Postado por Lucas Pinheiro)

Com 11,2 mil quilômetros de fronteiras com sete países e área equivalente a 42% do território nacional, a Amazônia é a maior preocupação do Exército brasileiro. O medo, no entanto, não é de invasão estrangeira ou de guerra na área.

Para a alta cúpula militar, a maior ameaça está em organizações não governamentais (ONGs), que podem fomentar o separatismo, a venda ilegal de terras indígenas, a apropriação indevida de recursos da floresta por estrangeiros, além de impedir o desenvolvimento da região.

“Trabalhamos com riscos. Não necessariamente você precisa invadir a Amazônia para dominá-la. Há outras formas do Estado perder o controle. Consideramos que existem algumas ONGs dentro da Amazônia que são problemáticas; não temos o controle delas”, diz o general Walmir Almada Schneider Filho, do Estado-Maior do Exército.

“Se você precisa desenvolver a região e, de certa forma, alguém impede o seu acesso e a atuação de órgãos públicos nela, você está perdendo o controle. E há ainda a venda de grandes lotes de terras públicas a empresários de outros países. Já enfrentamos essas dificuldades”, exemplifica o general, que é responsável por monitorar situações que possam resultar em crises ou conflitos que atinjam o interesse nacional. Em 2008, cálculos da CPI das ONGs apontaram que mais de 350 grupos atuavam na região.

 Para o comandante das tropas na Amazônia, general Eduardo Villas-Boas, a ausência do Estado é a principal causa da região representar hoje a preocupação número 1 dos militares.

“Em pleno século 21, o país ainda tem quase metade do seu território não ocupado e não integrado à dinâmica nacional. Essa é uma tarefa histórica que temos ainda por terminar. A Amazônia abriga as respostas e soluções para os grandes problemas da humanidade: água potável, biodiversidade, recursos minerais. Ela não pode ser um grande vazio e nisso está a grande preocupação que temos em relação a ela”, afirma.

A Estratégia Nacional de Defesa (END), promulgada em 2008, colocou como ponto-chave para o país manter a soberania da floresta, relacionando o progresso com a manutenção do controle da Amazônia.

“O Brasil repudiará, pela prática de atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de tutela sobre as suas decisões a respeito de preservação, de desenvolvimento e de defesa da Amazônia. Não permitirá que organizações ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros - políticos ou econômicos - que queiram enfraquecer a soberania brasileira. Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da humanidade e de si mesmo, é o Brasil”, diz o texto.

 Nos anos 90, vários políticos estrangeiros defenderam que a mata deveria ser “internacionalizada".  Em 1989, o então vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, afirmou que, “ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”.

A mesma linha foi adotada pelos ex-líderes François Mitterrand, da França, e Mikail Gorbachev, da União Soviética, que afirmaram que o Brasil deveria aceitar uma “soberania relativa”.

Efetivo para defesa
O Exército divide o Brasil em sete grandes áreas. Apesar da Amazônia ser a maior em território (7 milhões de quilômetros quadrados), possui, proporcionalmente, o menor efetivo. Em 1950, eram apenas mil soldados. Hoje, são 27 mil homens responsáveis pela vigilância de um quinto das reservas de água doce e um terço das florestas do planeta. A biodiversidade da área vale mais de US$ 34 trilhões (R$ 70 trilhões) e compõe o maior banco genético da Terra, segundo documentos do Exército.

A divisa amazônica ainda é bastante permeável: são 21 pelotões especiais de fronteira (PEF) para defender 11,2 mil quilômetros ao longo de sete países vizinhos. Um grupo, com apenas 35 homens, é responsável por 1.385 quilômetros de divisa seca na tríplice fronteira com o Suriname e a Guiana Francesa. Um projeto pretende elevar o efetivo na região para 48 mil soldados e construir mais 28 bases até 2030.

Os gastos para a ampliação são altos. A construção de cada PEF custa entre R$ 20 milhões e R$ 34 milhões para garantir o principal – uma pista de pouso e algumas habitações para os militares.

Segundo o general Villas-Boas, a construção de novas bases está prevista no Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), um projeto revolucionário que pretende transmitir, em tempo real, tudo o que ocorre nas fronteiras. Para isso, serão usados radares, sensores infravermelhos, raio-x, som e luz, além de câmeras em aviões não tripulados,

O Sisfron ainda está em fase inicial. Em 2012, foi aberto processo licitatório. Os primeiros testes devem começar até o final do ano em Mato Grosso do Sul.

 “Nós estamos onde o Estado não está. Onde erguemos um PEF, a população se aproxima, buscando energia, saúde, necessidades básicas”, diz o general Villas-Boas. “E essa capilaridade nos impõe responsabilidades”.

Nas bases afastadas, o Exército constrói um pavilhão que pode ser usado por outras organizações federais e estaduais que atuam com meio-ambiente, indígenas, saúde, policiamento. As construções, no entanto, ficam sempre abandonadas.

 A falta de infraestrutura básica para a população faz os militares serem procurados pela população para solucionar quase todos os problemas.

“Eu vim falar com uma ginecologista. Não tem médico que cuida disso na cidade e nunca tive essa oportunidade antes”, diz a aposentada Raimunda Nonato, de 52 anos, enquanto pegava uma senha, em maio, durante uma ação social realizada por médicos do Exército em uma escola de Cleverlândia do Norte, no Oiapoque, fronteira do Amapá com a Guiana Francesa.

“Meu filho está doente, vomita há dias, não consegue comer. Trouxe para darem uma olhada. Se eu fosse para o SUS, teria que esperar dias para a consulta”, afirma a doméstica Ocileni Santos da Silva, de 20 anos, que carregava no colo o filho Ruani, que não parava de chorar.

Ao visitar um Pelotão Especial de Fronteira, em maio, o vice-presidente, Michel Temer, admitiu que a Amazônia é uma “casa abandonada”. “As fronteiras ficaram sem a presença do Estado ao longo do tempo. Vamos fazer reuniões para ocupá-las não só com militares, mas por meio das pessoas que já estão vivendo aqui e trazendo o Estado, com sua infraestrutura. Temos que estar presentes”, afirmou.

Perigos nas fronteiras
Além do vazio de poder e da instabilidade em países vizinhos, questões indígenas, ambientais e tráfico de drogas e armas estão entre as maiores preocupações do Exército. Na fronteira do Amazonas com Colômbia e Venezuela, por exemplo, a atuação de pelo menos três células das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) é monitorada, em uma região conhecida como Cabeça do Cachorro. Militares ouvidos pelo G1 apontam que esses grupos apresentam entre 13 e 22 combatentes, mas que não representam risco.

O último grande ataque das Farc ao Brasil ocorreu em fevereiro de 1991, quando 40 guerrilheiros invadiram um pelotão baseado às margens do Rio Traíra, no Amazonas, matando três brasileiros, deixando outros 29 feridos e roubando uma grande quantidade de fuzis, metralhadoras e munições. O então presidente Fernando Collor autorizou uma retaliação: na Operação Traíra, militares mataram 21 integrantes das Farc, capturaram outros e recuperam parte das armas. A ação virou lenda entre os soldados que atuam na Amazônia e, desde então, dizem eles, as Farc “não se aventuram mais por aqui”.

 “Não tem como impedir que guerrilheiros das Farc entrem no Brasil vestidos de civis. Eles passam desapercebidos pela fronteira, como pessoas normais, e chegam nas comunidades para comprar alimentos, coisas que precisam. Mas ataques nunca mais fizeram. Não querem briga conosco”, diz um oficial de alta patente, na condição de anonimato.

Garimpos ilegais
Ao norte da região, os garimpos ilegais são motivo de preocupação. “Mais de 30 mil garimpeiros estão do lado de lá da divisa com Suriname e Guiana. Do lado de cá, o número é menor. Estamos sempre monitorando e reprimindo”, explica o general Franklinberg Freitas, chefe de operações do Comando Militar da Amazônia. O Suriname é apontado como porta de saída da droga produzida na Colômbia para a Europa.

 A região de Tiriós, na tríplice fronteira com Guiana e Suriname, começou a ser ocupada em 1985, após o início de um movimento de guerrilheiros. Em 2003, foi instalado na área um PEF.

A Força 3, tropa especializada do Exército na Amazônia, descobriu em junho pistas de pouso clandestinas usadas por garimpeiros em terras indígenas no Pará e no Amapá. Os índios relatam que foram amaçados e obrigados a cavar. A Força Aérea bombardeou algumas bases ilegais, mas nem todas puderam ser destruídas.

“Temos feito grandes operações conjuntas para reprimir esses crimes. O Exército dá apoio a agências e todos os órgãos com logística, comunicações, inteligência. Estamos trabalhando em conjunto com o Ibama na fiscalização e apreensão de madeiras. Em áreas violentas, eles precisam de segurança para chegar lá”, afirma o general Villas-Boas.

Outro foco de atenção é o Parque Nacional de Tucumaque, uma unidade de conservação em área montanhosa e de difícil acesso, entre o Amapá e a Guiana Francesa, onde indígenas denunciaram a atuação de ONGs europeias, garimpos clandestinos e tráfico de animais em extinção.

 Faltam aeronaves e barcos
O comando militar da Amazônia foi criado em 1948, mas a busca por maior permeabilidade só começou a partir da década de 2000, quando duas brigadas – uma do Rio Grande do Sul e outra do Rio de Janeiro – foram transferidas, inteiras, para a selva.

Entre os novos pelotões especiais de fronteira que serão erguidos, três serão em Rondônia, cinco em Roraima (um deles na reserva Raposa Serra do Sol), quatro no Amapá, três no Acre, seis no Amazonas, dois no Amapá e três no Pará.

O objetivo é usar, na maioria deles, soldados indígenas que conheçam a região e saibam a língua e os costumes da população local.

As guerrilhas utilizam muito os rios da floresta para seus deslocamentos. Uma das tarefas dos novos pelotões, instalados próximos aos cursos, será o monitoramento de embarcações que podem ser utilizadas para o tráfico. Em 2006, a Polícia Federal apreendeu no Rio Negro um barco carregado de remédios e munições, que haviam sido desviados do Brasil e que tinham como destino as Farc. Em 2010, dois investigadores da PF morreram em um tiroteio com homens armados em barcos no Rio Solimões, quando investigavam o tráfico de drogas.

O G1 visitou quatro pelotões de fronteira em Roraima, Pará e Amapá e conversou com os militares sobre as dificuldades enfrentadas, como energia por apenas 9 horas diárias, embarcações antigas e desagastadas, racionamento de alimentos e doenças (veja reportagem sobre fronteiras).

Cada pelotão de fronteira tem entre 40 e 60 homens, comandados por um tenente. A ideia inicial é que, antes de criar novas bases, dois destacamentos isolados no Acre e outro na divisa do estado com o Amazonas, cada um deles com menos de 20 homens, sejam transformados em PEF.

A principal dificuldade é a falta de recursos para levar e manter tropas e equipamentos em regiões distantes. Todos os generais ouvidos pelo G1 afirmam que o problema da Amazônia não é a falta de pessoas, mas de meios. Nas bases não há aeronaves. Os equipamentos de comunicação apresentam falhas. As embarcações e as armas possuem mais de 40 anos.

 Os novos PEF que o Exército pretende construir servirão como pequenas “células de vigilância”, com a missão de monitorar e reagir imediatamente a qualquer ameaça. A intenção é que a distância entre cada base seja de, no máximo, 250 quilômetros.

“Não adianta ter só o soldado no PEF. Ele, sozinho, pode fazer sua parte, mas, sem a presença do Estado inteiro lá, não vai resolver o problema. Falta tudo para a população: educação, saneamento, saúde. Se não houver um esforço da sociedade para isso, nosso projeto não vai conseguir", diz o general Schneider.

"Os primeiros homens que desbravaram a Amazônia, como o militar português Pedro Teixeira, em 1600, tiveram uma dificuldade enorme para colonizá-la. Desde então as Forças Armadas se preocuparam com a defesa desse território e, até hoje, a quantidade de soldados é insignificante para cobrir a região. É necessário estarmos atentos em tempos de paz para termos condições efetivas de enfrentar qualquer perigo", defende o historiador militar e professor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, Roberto Cavanhari.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Exército quer novas armas antiaéreas até Copa 2014 para sanar ponto fraco (Postado por Lucas Pinheiro)

Artilharia antiaérea é pré-requisito dos comitês internacionais que organizam a Copa do Mundo e a Olimpíada, competições esportivas que serão sediadas pelo Brasil em 2014 e 2016, respectivamente. O sistema de defesa, capaz de prevenir e impedir ataques aéreos realizados por aeronaves ou aviões não tripulados, é um dos pontos fracos do Exército.

Com mais de 35 anos, as armas brasileiras são de tecnologia ultrapassada e não possuem potencial de alcance a média altitude, entre 3 km e 15 km, podendo atingir apenas alvos encontrados a uma distância inferior. É possível ter ideia da levando em conta que todos os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm capacidade de abate antiaéreo à média altura.

O reaparelhamento do setor antiaéreo do Brasil é uma das prioridades da Estratégia Nacional de Defesa, que determina que o país adquira a capacidade de operar artilharia antiaérea a média altura.

“O material que temos é bastante defasado tecnologicamente. Os canhões entraram em operação no Brasil em 1977, mas funcionam ainda, embora com dificuldade de manutenção. Também temos outros canhões que foram fabricados pela Avibras, uma empresa brasileira, e que começaram a operar em 1985. Também é um material bastante antigo”, diz o general Marcio Roland Heise, que comanda a artilharia antiaérea brasileira.

“O problema que temos com a manutenção dos canhões e com os equipamentos de direção de tiro é que, como são antigos, é difícil achar peças para reposição. Mas isso não impede o nosso uso”, acrescenta o general.

Roland Heise explica por que o Brasil ficou tanto tempo com essa defasagem. “Temos sempre que priorizar o que é mais importante quando há dificuldades no orçamento. Como os recursos são restritos, as dificuldades foram sendo sempre colocadas. Foi priorizado o que o Exército julgou, ao longo dos anos, o mais importante”, afirma. “Agora estamos trabalhando na recuperação. Vamos lutar para que seja eficiente novamente”, completa.

Os misseis e canhões que o Brasil possui atingem uma altitude de até 3 km de altitude e podem ser disparados de um raio de até 4 km. Conforme o Livro Branco, documento que detalha a política de defesa nacional, a tropa conta com 702 canhões, de vários tipos, a maioria adquiridos no final dos anos 70 e no início dos anos 80. O documento não divulga quantidade de mísseis que o Brasil tem.

 Em setembro de 2009, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, comprou 300 unidades de mísseis Igla, de alta tecnologia, da Rússia, assustando os militares brasileiros. Cada um deles custa US$ 80 mil. O comandante diz não poder informar quantos Igla o Brasil possui, “por questões estratégicas”.

“Nossos vizinhos compram e colocam na imprensa. Mas nós não divulgamos. Somos um país pacifista. Mas posso falar que temos o suficiente”, afirma.

Durante a Rio+20, em junho, o Exército posicionou o armamento em lugares isolados ao redor do Rio Centro, com a missão de abater qualquer aeronave ou explosivo que invadisse o espaço aéreo. Os canhões ficaram escondidos dentro do Autódromo de Jacarepaguá, de empresas ou em áreas abertas, como campos de futebol, para que a população e os turistas não pudessem ver. Os canhões e os mísseis não precisaram ser usados.

Em 2014, o general garante que o Brasil não vai passar vergonha. “Nós temos a pretensão de adquirir tudo o que precisamos até a Copa, sim. O Exército está conduzindo um projeto para reformular material e também conceitos de uso, buscando também a capacidade de alvo a média altura. É o que queremos”, diz Heise.

Ao custo de R$ 2,354 bilhões, segundo o general Heise, a proposta para atualizar o sistema de defesa antiaérea começou em 2011. O estudo de viabilidade está em fase de elaboração. Contudo, o Livro Branco estima em R$ 859,4 milhões a previsão de investimentos na área até 2023. Os militares levantaram mais de 4 mil especificações sobre que tipo de armas, comunicações e logística desejam ter. Ao término do trabalho, será apresentado em licitação o que o país precisa para se proteger diante das “ameaças modernas”. Entre os interessados no contrato estão fabricantes russas, francesas, israelenses e americanas.

“O projeto segue um cronograma de 10 anos para que possamos colocar todo o material em ordem. Isso demora, porque temos também que capacitar o pessoal e fazer testes. Não adianta nada termos o equipamento se ninguém sabe operá-lo”, diz o general. “Eu gostaria de ter muita coisa, mas não temos todo o dinheiro do mundo para isso. Eu queria ter a Ferrari, mas às vezes você só consegue comprar outro carro, mesmo que não seja tão potente”.

O alcance de média altura, no entanto, está praticamente certo. “A vantagem dessa tecnologia é podermos atuar também à baixa altura de uma distância maior. Você pode até estar a 40 km do alvo e disparar”, diz.

Áreas estratégicas
Os grupos de defesa antiaérea do Brasil começaram a ser criados em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, e foram posicionados em áreas que preocupavam na época, como Rio de Janeiro, Praia Grande (SP), Caxias do Sul (RS) e Sete Lagoas (MG). O último grupo a ser criado foi o Brasília, que começou a ser estruturado em 1988 e é o melhor equipado, com a missão de defender o Palácio do Planalto.

“O posicionamento dos grupos atende interesse de proteção de estruturas estratégicas. Na Baixada Santista, há refinarias de petróleo. No Rio Grande do Sul, várias fábricas importantes no setor de defesa e também refinarias. Em Minas, temos outras indústrias de armas. Já no Rio, há plataformas de petróleo que devem ser defendidas ”, explica o general.

O Exército pretende construir pelo menos três novos grupos em áreas estratégicas, como na Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná, e na região amazônica, para proteger a selva e as hidrelétricas que estão sendo construídas. Outras áreas de interesse são aeroportos, portos e estações de transmissão.

Em todo grande evento internacional, a artilharia antiaérea é fundamental para defender chefes de estado e autoridades de ataques terroristas. Na Copa do Mundo, é uma das exigências da Fifa. Em 2010, a África do Sul teve de alugar os sistemas de radares e antimísseis de Israel para atender aos requisitos, ao custo de mais de R$ 1 bilhão.

 Modo de atuação
A artilharia antiaérea funciona por meio de canhões e mísseis. No Brasil, dentre os canhões utilizados estão o Oerlinkon/Contraves 35 mm, de fabricação italiana e suíça, adquirido em 1977, e o sueco Bofors 40 mm. Já os mísseis são do tipo Igla, russos, e que são disparados por apenas um homem.

Os mísseis têm validade de 10 anos e, quando estão para vencer, são usados em treinamento. A última leva chegou em 2011 – a quantidade comprada não é divulgada, mas os oficiais afirmam que é suficiente.

“Um ataque não ocorre do dia para a noite. Se houve uma crise, deslocamos pessoal e as armas para o local. Só atuamos sob ordem do Comando de Defesa Aeroespacial (Comdabra). Em tempos de paz, um tiro de abate depende da autorização da Presidência ou de alguém designado por ela”, diz.

 Necessidades
Com velocidade de 1.200 km/h, os mísseis Igla são do tipo “atira e esquece”, seguem em direção do alvo guiados por infravermelho. Eles são mais empregados no abate de aeronaves. Os canhões requerem orientação por radar e cálculos de tiro, para que os explosivos acertem o alvo em determinada posição no futuro. Eles podem ser usados para derrubar drones (aviões não tripulados que recolhem informações e realizam ataques) ou helicópteros a baixa altitude.

“O Igla nos interessa em alguns tipos de emprego, pois é levado por um único homem e vem pronto, é fácil de transportar”, diz o general.

Dentre os equipamentos que a Brigada de Artilharia Antiaérea pretende adquirir até a Copa está a tecnologia de guiamento. “Algumas ameaças não possuem fonte de infravermelho suficiente para que o Igla possa interceptá-los. Precisamos de novos tipos de mísseis, que sejam capazes de se guiarem e perseguir a ameaça se ela fizer manobras para fugir”.

“Até hoje, nunca fizemos um disparo real. É uma responsabilidade e um risco muito grande, precisa ter certeza. Depois de disparado o míssil, não tem volta. Quando se abate uma aeronave, pessoas morrem. Em exercícios, simulamos isso. Mas, em uma operação de não-guerra, como Rio+20 e grandes competições, uma falha é inadmissível. Essa palavra não existe no dicionário da antiaérea”, afirma Heise.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Sucateado, Exército não teria como responder a guerra, dizem generais (Postado por Lucas Pinheiro)

Assinada em 2008, a Estratégia Nacional de Defesa (END) prevê o reaparelhamento das Forças Armadas do país em busca de desenvolvimento e projeção internacional, mirando a conquista de um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, poucas medidas previstas no decreto tiveram avanços desde então.

O Exército, que possui o maior efetivo entre as três Forças (são 203,4 mil militares), está em situação de sucateamento. Segundo relato de generais, há munição disponível para cerca de uma hora de guerra.


O Exército usa o mesmo fuzil, o FAL, fabricado pela empresa brasileira Imbel, há mais de 45 anos. Por motivos estratégicos, os militares não divulgam o total de fuzis que possuem em seu estoque, mas mais de 120 mil unidades teriam mais de 30 anos de uso.

Carros, barcos e helicópteros são escassos nas bases militares. O índice de obsolescência dos meios de comunicações ultrapassa 92% - sendo que mais de 87% dos equipamentos nem pode mais ser usado, segundo documento do Exército ao qual o G1 teve acesso. Até o início de 2012, as fardas dos soldados recrutas eram importadas da China e desbotavam após poucas lavadas.

A Estratégia Nacional de Defesa elencou entre os pontos-chave a proteção da Amazônia, o controle das fronteiras e o reaparelhamento da tropa, com o objetivo de obter mobilidade e rapidez na resposta a qualquer risco. Defesa cibernética e recuperação da artilharia antiaérea também estão entre os fatores de preocupação.

Um centro de defesa contra ataques virtuais começou a ser instalado pelo Exército em 2010, em Brasília, mas ainda é enxuto e não conseguiu impedir ataques a uma série de páginas do governo durante a Rio+20, em junho deste ano.

O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), iniciativa que busca vigiar mais de 17 mil quilômetros de divisas com 10 países, começará a ser implantado ainda em 2012, com um teste na fronteira do Mato Grosso do Sul com Paraguai e Bolívia.

Segundo o general Walmir Almada Schneider Filho, do Estado-Maior do Exército, a Força criou 245 projetos para tentar atingir os objetivos da Estratégia Nacional de Defesa. Ele afirma que os recursos, porém, chegam aos poucos.

Nos últimos 10 anos, a percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) investido em defesa gira em torno de 1,5%, segundo números do Ministério da Defesa - em 2011, o valor foi de R$ 61,787 bilhões. Durante a crise econômica, entre 2003 e 2004, o índice chegou a 1,43%. O maior percentual foi registrado em 2009, quando 1,62% do PIB foram destinados para o setor.

Em 2012, o Exército receberá cerca de R$ 28,018 bilhões, mas 90% serão destinados ao pagamento de pessoal. Desde 2004, varia entre 9% e 10% o montante disponível para custos operacionais e investimentos.

A ideia do ministro da Defesa, Celso Amorim, é elevar gradativamente os gastos com defesa para a média dos demais países dos Brics (Rússia, Índia e China), que é de 2,4%. Segundo afirmou em audiência no Senado, o objetivo é fazer o Brasil ter maior peso no cenário internacional.

“Nós perdemos nossa capacidade operacional, sabemos dessa defasagem. A obsolescência é grande. Por isso, um dos nossos projetos busca a recuperação da capacidade operacional. Até 2015, devemos receber R$ 10 bilhões só para isso”, afirma o general Schneider Filho, responsável pelos estudos da END no Estado-Maior do Exército.

Falta munição
Dois generais da alta cúpula, que passaram para a reserva recentemente, afirmaram ao G1 que o Brasil não tem condições de reagir a uma guerra. “Posso lhe afirmar que possuímos munição para menos de uma hora de combate”, diz o general Maynard Marques de Santa Rosa, ex-secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa.

“A quantidade de munição que temos sempre foi a mínima. Ela quase não existe, principalmente para pistolas e fuzis. Nossa artilharia, carros de combate e grande parte do armamento foram comprados nas décadas de 70, 80. Existe uma ideia errada de que não há ameaça. Mas se ela surgir, não vai dar tempo de atingir a capacidade para reagir”, alerta o general Carlos Alberto Pinto Silva, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), que coordena todas as tropas do país.

“Nos últimos anos, o Exército só tem conseguido adquirir o mínimo de munição para a instrução. Os sistemas de guerra eletrônica (rádio, internet e celular), a artilharia e os blindados são de geração tecnológica superada. Mais de 120 mil fuzis têm mais de 30 anos de uso. Não há recursos de custeio suficientes”, diz Santa Rosa. Ele deixou o Exército em fevereiro de 2010, demitido por Lula após chamar a Comissão da Verdade, que investiga casos de desaparecidos políticos na Ditadura, de “comissão da calúnia”.

Segundo o Livro Branco, documento que reúne dados sobre a defesa nacional, o Exército possui 71.791 veículos blindados, a maioria deles comprados há mais de 30 anos. Apenas um é do modelo novo, o Guarani, entregue em 2012 e que ainda está em avaliação. Um contrato inicial de R$ 41 milhões foi fechado para a aquisição dos primeiros 16 novos carros de combate. No último dia 7, um novo contrato foi assinado para a aquisição de outras 86 viaturas Guarani, ao custo de R$ 240 milhões.

"Nenhuma nação pode abrir mão de ter um Exército forte, que se prepara intensivamente para algo que espera que nunca ocorra. A população tem que entender que é preciso ter essa capacidade ociosa, sempre, para estar pronto para dar uma resposta se um dia for necessário", defende o general Fernando Vasconcellos Pereira, diretor do Departamento de Educação e Cultura do Exército.

Riscos e ameaças
Para saber quais equipamentos, tecnologias e armas precisam ser compradas e que outras mudanças são necessárias, o Exército criou o Grupo Lins, que reúne uma equipe para prever cenários de conflitos ou crises - internos ou externos - em que a sociedade e os políticos possam exigir a atuação dos militares até 2030.

O objetivo é antever problemas, sejam econômicos, sociais, de segurança pública ou de calamidade, e saber quais treinamentos devem ser dados aos soldados até lá.

Nesses cenários, a Amazônia e as fronteiras estão entre as maiores preocupações. O texto revisado da Estratégia Nacional de Defesa, entregue pelo governo ao Congresso Nacional em 17 de julho, destaca "a ameaça de forças militares muito superiores na região amazônica”.

Para impedir qualquer ataque, o Exército prepara o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), que, através de um conjunto de sensores, radares e câmeras, permitirá a visualização de tudo o que ocorre nas fronteiras em tempo real. Os equipamentos facilitarão a repressão ao tráfico de drogas e armas, ao contrabando e aos crimes ambientais. A previsão é de que o sistema esteja totalmente operando em 2024.

O alto valor que o governo pretende passar para o Sisfron - R$ 12 bilhões até 2030 – movimentou o mercado nacional e fez com que empresas se unissem buscando soluções para vencer a licitação em andamento. Entre as interessadas estão Odebrecht, Andrade Gutierrez e Embraer, que fizeram parcerias com grandes indústrias do setor.

Para o historiador e criador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Geraldo Cavanhari, o Exército está em transformação e precisa se adequar para os inimigos do futuro. “O inimigo, seja interno ou externo, agora está extremamente bem armado. Por enquanto, não temos ameaças explícitas, mas temos que cuidar da nossa casa e estar preparados para responder, caso seja necessário”.

O general da reserva Carlos Alberto Pinto Silva diz que o problema continua sendo o orçamento. "Um coronel argentino me disse que eles aprenderam na guerra nas Malvinas que, se não existe a capacidade mínima de responder, não dá tempo para adquirir. Não adianta chorar depois”, afirma.

Mudança de percepção
Estudioso da área, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ronaldo Fiani entende que a abertura democrática e a criação do Mercosul provocaram mudanças na forma da população conceber a proteção do país, Consequentemente, foram feitos cortes nos investimentos militares. “O fim da ditadura e a união dos países latinos fez com que houvesse enfoque em integração, com diminuição do investimento na área militar", explica.

Burocracia, crises financeiras e déficit fiscal também são entraves para maior disponibilidade de recursos. “A única forma dos militares receberem mais investimentos é se integrando à pesquisa acadêmica e às empresas, como ocorre nos países desenvolvidos", diz Fiani.

O general Walmir Almada Schneider Filho concorda com o professor. “No primeiro mundo, o povo tem a mentalidade de que defesa e desenvolvimento caminham juntos e complementam-se. Um impulsiona o outro. Nós não queremos chegar neste patamar [de país voltado para a guerra], mas criar uma mentalidade de defesa, para que o povo discuta o assunto", diz.

“Eu acho que a redução dos investimentos tem relação com o período militar e a própria mentalidade da população, que vê como melhor alternativa aplicar os recursos em outro setor fundamental, como saúde, educação, etc", acrescenta Schneider Filho.

"Não há um palmo sobre o território brasileiro que não esteja sob a responsabilidade de uma tropa do Exército. Somos a organização mais presente em todo o território e que tem meios de chegar o quanto antes em qualquer situação. Por isso, assumimos cada vez mais responsabilidades e temos que ter capacidade para atuar em situações de emergência”, diz o general José Fernando Yasbech, também do Estado-Maior do Exército.

Yasbech se refere aos múltiplos empregos do Exército em ações civis dentro do país, como as operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), como a Constituição determina o emprego militar em casos graves de segurança pública. Além disso, o militares são convocados para o apoio em caso de enchentes, abertura de estradas, construção de pontes, distribuição de ajuda humanitária, apoio em eleições, combate à dengue e à aftosa, entre outros.

Proteger
Em 2012, mais uma linha de atuação está sendo aberta: os militares serão responsáveis pela defesa e proteção de infraestruturas estratégicas do país, como hidrelétricas, usinas nucleares, indústrias essenciais e centros financeiros e de telecomunicações a partir da criação do projeto Proteger. O programa terá recursos na casa dos R$ 9,6 bilhões e reunirá órgãos públicos dos estados e informações necessárias para prevenir, conter ou reprimir ataques ou acidentes nesses locais.

São mais de seis mil infraestruturas estratégicas existentes no país, sendo que 364 estão entre as mais críticas, conforme levantamento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.

"O trabalho será tanto no sentido de prevenir acidentes nessas estruturas como também de identificar riscos e, eventualmente, contê-los", diz o general José Fernando Yasbech, que responde pelo projeto.

O trabalho começará no Paraná, com a implementação de um centro de ação conjunta com polícia, Bombeiros e Defesa Civil para defender a Usina de Itaipu.

“O reaparelhamento das Forças Armadas vai além de apenas dizer que um país pacifista está tomando uma atitude de se tornar mais bélico. O emprego dos militares tem sido bem diferente nos últimos anos, seja em ações de defesa civil, de segurança pública, de apoio aos órgãos estaduais. E isso demanda alterações estruturais profundas na política, na mentalidade da população e em investimentos”, diz Iberê Pinheiro Filho, mestre em Relações Internacionais e estudioso da Estratégia Nacional de Defesa.

Procurado para comentar a atual situação do Exército, o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Roberto Mangabeira Unger, que escreveu o texto da Estratégia Nacional de Defesa, disse que se considerava "moralmente impedido de falar" devido à "relação íntima e especial com as ações e tarefas de que tratará a reportagem".

"Direi apenas o que escrevi na dedicatória de um livro que dei à biblioteca do Exército, por mãos do general que a comanda: o Exército brasileiro é a mais importante instituição do Brasil", afirmou Mangabeira Unger ao G1.

Já o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, que também assinou a END em 2008, disse que não iria comentar a situação, pois não ocupa mais o cargo.